Nas últimas semanas, os eventos que transformaram as escolas e salas de aula em geral em palcos de crimes ganharam destaque no noticiário nacional. Um professora do Rio foi presa por manter relações sexuais com duas alunas de 13 anos. Uma universitária diz ter sido chamada de Lady Kate - personagem do programaZorra Total - pelo educador em São Paulo. Uma diretora foi agredida por um jovem de 15 anos em Santa Catarina.
Para a professora Helena Côrtes, da faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), há uma "omissão" no papel educacional da família, que é de desenvolver valores na criança. "A escola, de maneira geral, reflete a sociedade em que vivemos. Ela espelha o entorno social em que ela está inserida. Vivemos em uma sociedade violenta, com limites frouxos", disse. Para a professora, se o aluno vive em ambiente em que nada lhe é cobrado por parte dos pais, ele não vai respeitar a autoridade do educador. "Reflete na relação professor-aluno o fato de que ninguém respeita a polícia, a Justiça, os pais", afirmou.
Segundo a professora Neide Noffs, coordenadora do curso de Psicopedagogia da PUC-SP, o aumento da violência em todos os setores da sociedade é um dos reflexos de mudanças no contexto familiar. "Os pais não conseguem disciplinar seus filhos pela própria situação de deterioração do modelo de família. Eles se apresentam completamente impotentes para lidar com situações de agressão - às vezes eles mesmos são agredidos", disse.
A violência, para a professora Helena, tem a mesma base nas instituições públicas e privadas: a educação dentro de casa. Há, porém, algumas "peculiaridades" em relação ao ambiente econômico em que os pais vivem. "Os filhos reproduzem o que ouvem dentro de casa. Na escola privada, ele ouve que paga o salário do professor, então o professor é um servo, é desvalorizado por ser um funcionário a serviço da família das classes A e B", disse. Já nas comunidades carentes, segundo Helena, a violência em sala de aula é um reflexo de características daquela comunidade, como a marginalidade, o tráfico de drogas, a falta de definição de valores e a inexistência de vínculos familiares. Para a professora Neide, a diferença está apenas na vigilância dos alunos de instituições particulares, o que pode dar a impressão de que a violência é menor nestes locais.
Para Helena, há um sentimento de "deixar que a escola ensine". "As pessoas deixaram de assumir responsabilidade. A família da classe A terceiriza para não se incomodar, para poder aproveitar seu spa. Já a família carente terceiriza porque não tem condição de segurar, de ensinar". Isso, porém, sobrecarrega a escola e o professor.
A falta de condições para trabalhar é o principal fator apontado por Neide para a situação de estresse vivida por muitos professores nas salas de aula de todo o País. Segundo ela, as jornadas muito longas, duplas e às vezes triplas do corpo docente desgastam o educador. "Ninguém o respeita, ele come de pé, não tem livro para se atualizar... Ele vai se desanimando", afirmou. Para ela, além melhorias no ambiente de trabalho, o educador deveria ter uma preparação mais específica. "A formação do professor implicaria em um trabalho pessoal. Reforçar que um bom professor não é aquele que ensina conhecimentos corretos, mas também aquele que é tolerante e desenvolve valores, tem tempo para ele mesmo, tem uma distração", disse.
Para as duas especialistas, a articulação entre a família e a escola é essencial para coibir comportamentos violentos em sala de aula. "A educação escolar não opera sozinha. Ela pode ficar batendo na tecla, mas se a família não ajuda, não adianta", disse Helena. "A escola não é prisão. Eles não vão para serem reeducados socialmente, vão para aprender. Mas tem que ter clima, tem que der um mínimo de diálogo e participação dos pais na escola", afirmou Neide.
ISADORA GASPARIN