Do sociólogo Luciano Alvarenga:
Na escola Objetivo da cidade de Promissão, interior de São Paulo, os alunos do colegial fizeram um corredor polonês e aguardaram o professor passar, professor este que cometeu o equívoco de ter impedido que dois ou três alunos entrassem na sala de aula após o sinal. O dito professor foi agredido verbalmente e ouviu todo tipo de xingamento já conhecido e inventado.
Numa outra escola particular, agora em Rio Preto, também interior, onde acontecia uma reunião de pais e mestres a mãe de dada aluna levantou-se para comentar alguma coisa, quando foi abruptamente interrompida pela filha com a seguinte frase: “cala a boca mãe, a senhora não sabe nada”.
Que a escola é uma morta insepulta não resta mais dúvida, que os professores nada mais tem a dizer que seja mais óbvio que o Google está claro a todos aqueles que dão aula. Que a escola se transformou num cárcere que visa manter em “estado de controle”, temporal, uma juventude sem paradeiro, sem formação ética e sem referência moral também está evidente. Que o mercado de trabalho não precisa mais da escola na maioria dos setores econômicos, basta ver pela distância entre o que escola pensa que ensina e o que o mercado cobra como formação.
Mas outra coisa se esconde naqueles dois episódios além do velório da escola. É a morte do adulto. Segundo a psicanalista Maria Rita Kehl a pelos menos 40 anos que a sociedade brasileira caminha sem a figura psicológica do adulto. Estamos vagando entre a infância cada vez mais reduzida e juventude e a terceira idade; terceira idade é um eufemismo para velho. O fato é que magicamente as pessoas passam a vida jovem e de repente estão na terceira idade, mas nunca são adultas.
A escola era um outro da autoridade do adulto. Sem adulto não faz sentido escola. O desmonte da família e sua transformação em um amontoado de indivíduos preocupados apenas com sua biografia também é resultado da morte do adulto. Se todos são jovens o papel de pai e mãe e filhos fazem cada vez menos sentidos, na verdade não faz sentido algum.
Ora, todos que trabalhamos em escola sabemos que a idade é um abismo que se forma entre professor e aluno. Que os professores que conseguem alguma relação com seus formandos, a maioria tem menos de trinta anos, ou, é algum tipo maluco que finge ser maluco para se manter vivo na sala de aula. A agressão ao professor está dentro deste contexto, alguém sem autoridade imaginou que pudesse riscar uma linha no chão dizendo quem pode o quê. Ninguém pode nada que não seja consenso estabelecido pela exigência da maioria – dos jovens. Além do mais, não são alunos, são clientes.
Numa sociedade que tem ojeriza do adulto – adulto é aquele que faz o papel de chato, cobrando, negando, exigindo – é natural que quando ele apareça seja logo posto em silêncio e lembrado de que sua função não existe mais, ainda por que “a senhora não sabe nada”. Nessa horizontalidade que tem como métrica a jovialidade, a leveza, o descompromisso, o fruir das sensações e desejos, é inadmissível que alguém numa dada situação, ainda mais na escola, venha a se comportar como adulto.
Tudo isso é alvorecer de um totalitarismo sobre os velhos e qualquer outro que não seja jovem, inclui-se os feios, os gordos, os defeituosos os diferentes de qualquer gênero ou grau. Beautiful People o site que não aceita feios ou alquebrados de qualquer natureza é revelador dos tempos que emergem nesta próxima década. O sucesso do site pelo mundo e sua presença em 89 países evidencia a alegria incontida em que os escolhidos se desprendem dos “outros” em direção ao éden. Explica também o sucesso das cirurgias plásticas.
Estes dias me disseram que tal bar era muito bacana... “só tem gente bonita”.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
O CASO GEISY, DA UNIBAN - UM OUTRO OLHAR
Mas por que agora e justamente numa Faculdade tal coisa aconteceu, a humilhação da jovem Geisy? Em primeiro lugar é preciso entender que o público universitário, especialmente em instituições particulares, não é mais o mesmo de alguns anos antes. Em segundo, o discurso que vigora nestas instituições e o sentido que elas ganharam dos anos 2000 para cá.
Desde os anos 2000 que cada vez mais o discurso das faculdades deixou de ser voltado para os alunos e passou a ser dirigido para o cliente e suas demandas. As faculdades, as que deram certo do ponto de vista financeiro como a Uniban e Anhanguera, por exemplo, passaram a ser empresas com roupa de escola, muito mais do que escola com vocação de empresa.
Estas mudanças, que não pequenas, trouxeram para dentro das faculdades outra ética, a ética do consumo. A faculdade é neste sentido apenas o entreposto entre o colegial e o diploma universitário. Isso por que a formação universitária está mais ligada ao ajeitamento de mão de obra para um mercado ávido de novas energias - não interessando exatamente a hiperqualificação - e que será o lugar onde esta mão de obra se formará de fato. Dados do MEC mostram que 80% de todos os formados em quase todas as áreas não trabalham na carreira em que se formaram. Este dado diz tudo.
(...) De um lado, formação universitária para atender a clientela mais interessada em diploma do que qualificação, de outro, uma política social e econômica geradora de oportunidades exigente de gente nova e mais ou menos preparada para ascender os motores destes novos tempos.
Ora, o público formador das faculdades particulares é hoje em sua maioria esta nova classe média ascendente e ávida por oportunidades. Chegando a faculdade sem nunca terem lido um único livro, saem delas da mesma forma. Isso por que a idéia é simplesmente se apossar de um símbolo típico da velha classe média, escolaridade universitária, assim como já se apossam de outros como uma geladeira duplex, uma televisão de 29 polegadas, achocolatados, iogurtes e carro.
As faculdades, é o caso da Uniban, apenas oferecem aquilo que encontra enorme demanda – diploma.
Leia tudo:http://lucianoalvarenga.blogspot.com/2009/11/geisy-uniban-e-nova-classe-media.html
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